sábado, 10 de dezembro de 2011

Crítica literária de Délcio Teobaldo sobre o livro Incorporos


INCORPOROS - NUANCES DE LIBIDO
Uma leitura
Tive o privilégio de ler-ouvindo o livro “Incorporos – Nuances de libido”, no lançamento no Rio de Janeiro. Lançamentos performáticos são cada vez mais comuns. É um marketing agressivo que mostra a dimensão da obra e aponta os linques e as mídias com que é capaz de interagir. No caso de “Incorporos”, os linques são muitos. É pura literarrua (a palavra está correta e explico o significado no quarto parágrafo); ou seja, provoca os ouvidos, os olhos. É pra cheirar, dançar e, claro, tesar. Em “Incorporos” os sujeitos, os predicados e os verbos se fazem carne e habitam entre nós. A provocação começa na capa. O título do livro, pela disposição gráfica já é um poema: InCorPoros Estão aí o prefixo IN que, me permitam a liberdade autoral, significa movimento pra dentro; COR, um atributo essencial à etnia preta e POROS, uma clara referência ao prazer suado e extenuante. Logicamente, existem outras leituras. Outras impressões, mas fico com esta primeira que sugere invasão de cores na alma. O livro é fininho. Oitenta páginas. Não pára em pé, mas quem se importa? Provoca ereção. No corpo e no intelecto. Quem quiser alimento cerebral basta mergulhar na ilustração da capa assinada por Iléa Ferraz, que faz uma referência explícita à obra O Beijo (Der Kuss), da fase dourada do pintor austríaco Gustav Klimt. Visitar a obra de Klimt a partir desta fase já é meio caminho pra compreender o alcance “erudito” de “Incorporos”. O mergulho que alimenta a libido está lá dentro. “Incorporos” foi escrito a quatro mãos, por Akins Kintê e Nina Silva. Como os poemas não são assinados, é difícil, identificar onde um põe a mão e o outro enfia o dedo. Nem interessa muito. Seria Voyeurismo gratuito, mas me arrisco dizer que Kintê é autor exclusivo das “Rapidinhas” e coube a Nina Silva a autoria das preliminares e de todo o resto. Quem duvidar, confira. Os poemas são fortes. Têm ritmo. Tensão. Tipo “Pau preto/Pau dentro...” A mulher, ou melhor, o feminino em “Incorporos” não tem essa da “Negra Fulô”, de Jorge de Lima. Ela vem por cima e recupera o papel que a mulher sempre teve nas sociedades matriciais africanas: mulher é terra que pede observação das suas fases de trato, cuidado, plantio, colheita e gozo dos frutos colhidos e saboreados. Neste aspecto, “Incorporos” é explicitamente conservador. Basta especular quantas vezes onde se lê vagina, escreve-se flor e romã. Nada mais antigo. Salomão, no “Cântico dos Cânticos” já bolinava a fé com essas comparações vegetais: “Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se a vinha lançou flor, se as flores produzem frutos, se as romãs estão já em flor...”. Não importa se o que hoje é foda, nos templos bíblicos fosse chamado de poda. Em se tratando disso, felizmente, tudo continua igual debaixo do Sol. Por isso mesmo “Incorporos” é literarrua. Cata aqui e ali fragmentos de prazer entre sândalos e lençóis de linho, embora nesta estética incentive a celebração do amor entre trapos e nos puteiros. E esta maneira de trazer pra dentro dos livros as vozes de fora, sem muita preocupação de filtrá-las que faz com que o gênero literarrua, mereça um estudo à parte. Falta a este gênero (não é o caso de “Incroporos”, como venho provando até aqui) configuração literária para que faça jus a uma láurea acadêmica.Porém, em contrapartida, a literarrua entra onde a literatura nem ao menos cisma por os pés. Ora, se o sonho de todo poema é virar canção; e o sonho de toda canção é ser assobiada num buteco qualquer, “Incorporos” se consagrou na noite de lançamento quando o grupo Os Confrades “leram” trechos de seus versos numa performance de Funk. Foi o êxtase. A noite fechou ali. O que rolou depois foi só coroação do ato. (délcio teobaldo)


Nenhum comentário:

Postar um comentário